Wellcome

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Frágil


"vem, mas demore a chegar..."

Raul Seixas em "canto para minha morte"



Dia desses eu cheguei em casa por volta das 13 horas, vindo do trabalho. Então eu me deitei para tirar um cochilo, já que eu estava cansado e sonolento por ter acordado às 4 da manhã. Foi aí que um pernilongo chato começou a me perturbar zumbindo no ouvido direito, depois no esquerdo e sempre esquivando-se dos meus safanões. Num determinado momento ele pousou no meu braço direito, dando-me a chance de tentar acertá-lo com a mão esquerda. Desferi o tapa que causou um estalo e uma ardência no braço esquerdo, porém, não sei se consegui acertá-lo. O fato é que dormi, não sei se por ter matado o mosquito, ou se, vencido pelo cansaço, acabei "apagando" de tal forma que nem o chato do pernilongo conseguiu me acordar.


Duas horas depois, ao acordar, fiquei um pouco na cama filosofando a respeito daquele mosquito. Com todo esse caos que a cidade do Rio de Janeiro está vivendo por causa da epidemia de dengue, com a mídia noticiando mais casos fatais a cada dia, a gente acaba ficando meio neurótico por causa de qualquer mosquito que apareça. E eu pensei comigo mesmo: "Aquele poderia ter sido um Aedes aegypti, e ele poderia estar infectado e me picado durante o sono. Eu poderia adoecer por causa disso, e a doença poderia complicar e eu me tornar, assim, uma vítima a mais da dengue no Rio. Aquele insetozinho insignificante poderia ser o meu anjo da morte, o portador de minha passagem para o além."


Oh dona morte! Quantas facetas tu possuis? Às vezes tu chegas com estardalhaço enorme, como em um atentado terrorista ou em um desastre aéreo; Às vezes chegas sorrateira e silenciosa(bem, nem tão silenciosa assim. Tem aquele "zuuuum" no ouvido.) nas asas e no ferrão de um simples mosquito. A diferença é que nas guerras e nos desastres de grandes proporções tu ceifas por atacado, e nas epidemias tu vais colhendo as vidas uma a uma como quem colhe flores em um jardim. Mas há que se desfazer uma injustiça. O Aedes aegypti, que tem sido considerado o grande vilão, ele mesmo não mata. Ele apenas é o Vector, o portador do vírus(isto é, se estiver infectado) chamado Flaviviridae. Esse sim é o que causa todo o estrago no corpo humano podendo levar à morte. O mosquito apenas faz aquilo que todo mosquito fêmea faz(os machos alimentam-se de frutas), pois eles(ou elas) precisam de sangue para o amadurecimento dos ovos. Portanto, eles estão apenas cumprindo o seu ciclo biológico. E se o Osama Bin Laden resolvesse mandar uma carta com um pozinho branco contendo Antraz para o George Bush, o envelope não teria culpa nenhuma. Ele seria apenas o meio de transporte. Da mesma forma acontece com o Aedes e o vírus da dengue.


Feita a defesa do mosquito(que coisa hein! eu fiz a defesa do danado que poderia ter causado minha morte) eu continuo minha dissertação pensando que há algum tempo costumávamos colocar grades em nossas janelas para proteger-nos de ladrões e salteadores, os quais muitas das vezes são também assassinos. E hoje em dia, somos obrigados a por também telas finas nas janelas para o mosquito não entrar. Lembro-me também de que, mais de uma vez foi cogitada a possibilidade de as forças armadas serem chamadas para combater os perigosos traficantes nos morros cariocas. Mas, o governo estadual achou que não seria necessário. E hoje, contra um inimigo muito menor e aparentemente mais frágil, já que o mosquito não possui armamentos pesados de uso exclusivo das forças armadas como os traficantes possuem, as forças armadas foram chamadas com urgência para entrar na guerra contra a dengue.


E, falando de música, que é o que eu sempre faço, voltamos à música de Raul Seixas, cujo trecho eu citei na introdução: Nessa música, Raulzito lista uma série de situações fatais que acontecem diariamente ao nosso redor: "um acidente de carro, o coração que se recusa a bater no próximo minuto, a anestesia mal aplicada, a vida mal vivida...ou o escorregão idiota num dia de sol, a cabeça no meio-fio...". E quando ele cita essa do escorregão, voltamos a questão das mil facetas de dona morte, como o próprio Raul canta em um dos versos: "com que rosto ela virá?" E nos faz lembrar de mortes absurdas como a do poeta Ésquilo, que morreu ao ser atingido na cabeça por uma tartaruga que estava sento trasportada por uma ave de rapina e que escapuliu das garras da tal ave; ou do filósofo grego Crísipo que morreu de tanto rir ao ver um burro comer alguns figos que seriam servidos de sobremesa.


E assim, entre guerras, atentados, tragédias, mosquitos, vírus, traficantes, tartarugas e risadas, tudo isso me fez lembrar de um trecho de uma música do Sting, e com ela encerrar o texto: "...quão frágeis somos nós"

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Só Retratos...Sem Canções


"Vou colecionar mais um soneto/outro retrato em branco e preto/a maltratar meu coração."
Chico Buarque em "retrato em branco e preto"


Andei visitando blogs de alguns famosos. Entrei no blog de Bruno Medina, ex-tecladista do Los Hermanos e também no blog de Zeca Camargo, ele mesmo, o do Fantástico. Só então me dei conta de como escrevo mal e de que a inveja é realmente uma m...Achei incrível como o Bruno discorreu sobre a sintonia entre as capas de disco e as músicas contidas nos mesmos. Quanto ao Zeca, achei fantástico(sem trocadilho) o seu texto fluente, cheio de reviravoltas e beirando a prolixidade. Mas, prolixidade é coisa de quem tem o que dizer... ou não? Eu acho interessante esses caras que conseguem enxergar inflexões filosóficas Kantianas em filmes que para mim não passam de entretenimento puro e simples, como quando um crítico de cinema do jornal O Globo escreveu sobre o filme de animação "a noiva cadáver" de Tim Burton: "O filme é um tapa na cara das convenções sociais". Eu não vi nada além de pura diversão.

O fato é que depois de ter caido em mim de como o meu texto é pobre e inculto, quase que eu desisti de escrever por aqui. Me passou pela cabeça a idéia de mudar o nome do blog para "retratos" em vez de "retratos e canções", e assim, passar a só postar imagens, afinal de contas, uma imagem não vale por mil palavras? Assim também não correria o risco de ser processado pela dupla Sullivan e Massadas, de quem eu "roubei" o título da canção que ficou famosa na voz da Sandra de Sá e coloquei como título do blog.

Aí eu fiquei lembrando de canções que falam sobre "retratos" para poder encher lingüiça e prolongar um pouco mais o texto e tentar me igualar ao Zeca Camargo pelo menos em número de palavras. Lembrei-me de "me liga" dos Paralamas, que diz: "eu não te peço outra coisa, só uma chance/pus no meu quarto seu retrato na estante". Lembrei-me de "vamos fazer um filme" da Legião Urbana, na qual Renato Russo canta: "achei um 3x4 teu e não quis acreditar/que tinha sido a tanto tempo atrás", e por falar em 3x4 me lembrei também de "fotografia 3x4" de Belchior, onde ele narra os preconceitos contra os nordestinos que vem para o sul/sudeste em busca de melhores condições de vida. Em "retrato de um playboy" Gabriel O Pensador faz o retrato falado de um desses "pitboys" filhinhos de papai que infestam os bailes da zona sul carioca. Em "chão de giz", por sinal belíssima canção, Zé Ramalho canta sobre "fotografias recortadas de jornais de folhas, amiúde" e em outra linda canção, essa internacional, a banda inglesa The Cure canta em " pictures of you": "eu estive a tanto tempo/olhando para suas fotos/que quase acredito que elas são reais..."

Bem, todas essas canções, retratos e fotografias renderam pelo menos mais um parágrafo. Mas vou ficando por aqui mesmo...Quem nasceu para Thadeusz nunca chegará a Zeca. Mas, tudo bem. O meu consolo é que quando eu entro nos blogs dos não famosos eu vejo tanta abobrinha e falta de conteúdo(salvo raras exceções) que sou obrigado a reconhecer: "é... até que o meu blog é bem legal...".

terça-feira, 1 de abril de 2008

Elvis Não Morreu


"Sônia Braga é feia/não é boa/já não morre peixe/na lagoa/passa todo mundo no vestibular/o amor vai se acabar/carnaval agora é um dia só/sem censura e guaraná em pó."
Erasmo Carlos, em "pega na mentira"


O Pink Floyd vai se reunir com sua formação original e vai fazer um show gratuito no Aterro do Flamengo ainda esse mês.

Os Beatles vão entrar em estúdio para gravar um disco só com canções inéditas. Paul McCartney e Ringo Star mais dois médiuns, um encorporando Jonh Lennon e outro encorporando George Harrisson, vão se reunir para gravar canções compostas por Lennon no além e que foram psicografadas pelo tal médium que o recebe.

Essas duas notícias aí em cima são mentiras descaradas, afinal de contas, hoje é 1º de abril, o dia da mentira. Por isso, segui o exemplo dos versos do Erasmo que eu citei na introdução. Essa canção do Tremendão fez muito sucesso na década de 80 desfilando uma série de mentiras como "Zico tá no Vasco" e "acabou-se a inflação". A verdade (verdade?) é que o dia da mentira virou tradição. Dizem que o ano novo era comemorado no dia 25 de março, e suas festividades se estendiam até o dia 1º de abril. Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX da França determinou que o ano novo fosse comemorado no dia 1º de janeiro. Alguns franceses resistiram à idéia e continuaram a comemorar um ano novo "de mentirinha" em 1º de abril dando origem ao "dia da mentira" ou "dia dos bobos".
O título desta postagem é uma das mentiras mais conhecidas do mundo rock, embora muita gente acredite que é verdade. Se bem que é verdade mesmo quando se fala do mito, de todo o fanatismo que se criou em torno do rei do rock. Tanto é que, todos os anos, milhares de fãs fazem peregrinações até Graceland, a mansão onde Elvis vivia. E tem os covers do rei, os Elvis de mentirinha que são bem parecidos com o original, e que se reunem em festivais ao redor do planeta anualmente. Olhando por esse lado, Elvis continua mesmo mais vivo do que nunca.Mas tem uma outra mentira não tão célebre quanto essa no mundo do rock, mas que já povoou as publicações do gênero. É uma que diz que Paul McCartney na verdade(verdade?) está morto, e que na capa do álbum "Sargent Peppers" tem um monte de referências à morte de Paul, mas, como se sabe, Paul está bem vivo e pagando uma pensão milionária à sua ex-mulher.

"A mentira tem perna curta.", Esse é um dito bem popular e etm um outro provérbio, não me lembro se é árabe ou chinês que diz: "ninguém acredita no mentiroso. Mesmo quando ele fala a verdade.". Pra falar a verdade(rsrs)todos nós já dissemos alguma mentira em algum ponto de nossas vidas. E, se a exemplo de Pinóquio, a mentira provocasse o crescimento nasal, certamente haveriam muitos narigudos circulando por aí. Mas ninguém gosta de ser vítima de uma mentira. Renato Russo cantou em "quase sem querer" que "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira" e em "eu sei" ele cantou assim: "um dia pretendo/tentar descobrir/por que é mais forte/quem sabe mentir/não quero lembrar/que eu minto também." mas todo mundo sabe que a mentira não tem força nenhuma e que no fundo o que nós queremos é saber a "verdadeira verdade" como cantou o pessoal do Cidade Negra em "falar a verdade". E que todos nós um dia esperamos ver nas manchetes dos jornais a seguinte notícia: "CHEFES DE TODAS AS NAÇÕES REUNIRAM-SE NA SEDE DA ONU E DECIDIRAM INVESTIR TODO O ORÇAMENTO MILITAR DE SEUS PAÍSES NA ERRADICAÇÃO DA FOME E DA MISÉRIA NO MUNDO." E que esse dia não seja 1º de abril.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Descanse em Paz


"O show deve continuar/por dentro meu coração se quebra/minha maquiagem pode estar dissolvendo/mas meu sorriso continua."

Queen em "the show must go on"



Todos os textos que eu escrevo aqui, eu o faço de maneira descontraída e bem humorada. Tento falar de música, que é uma coisa que eu adoro, usando o bom humor, afinal esse blog não é nada assim tão sério. Já falei de morte e suicídio aqui, mas sempre enfatizando alguma coisa positiva no final. Porém, hoje é diferente. Vou tentar homenagear um amigo que partiu precocemente no dia de hoje.


Robson era um "neguinho" alto e magricela. Muito magricela mesmo! Trabalhou comigo faz alguns anos. No começo era muito quieto, mas depois que se enturmou revelou-se um dos caras mais "zoeira" que eu conheci. Era muito brincalhão e amigo de todo mundo, mas gostava de "encarnar" ou "zoar" quem desse algum vacilo. Na época eu tinha uns 23 anos e ele devia ter seus 19. Ficamos muito amigos principalmente depois que descobrimos que gostávamos dos mesmos estilos de música. Compartilhamos muitas canções, e me lembro que ficávamos discutindo as músicas da Legião Urbana, tentando entender o sentido das letras de Renato Russo. Depois de algum tempo trabalhando no meu setor, ele começou a cursar biologia e foi estagiar no laboratório de análise microbiológica ainda na mesma empresa. Logo depois desistiu da faculdade e foi trabalhar com seu pai no ramo de construção civil, saindo assim da empresa que eu trabalho. Mas nossa amizade continuou, e ele foi o "padrinho" de meu filho, padrinho entre aspas porque o batizado nunca se realizou. Lembro-me que certa vez em seu aniversário, eu lhe dei uma fita cassete do Sepultura e ele se amarrou. Chegou a tocar na festa, mas aí chegaram uns colegas dele que gostavam de black music e cortou o barato. Mas, as bandas favoritas dele eram Engenheiros do Hawaii e Guns n' Roses. Ele adorava "alívio imediato", "exército de um homem só" e "muros e grades" dos Engenheiros e "paradise city", "wellcome to the jungle" e "november rain" do Guns. Muitas vezes trabalhamos cantando essas músicas juntos, fazendo do trabalho uma diversão. Mas conversávamos sobre coisas sérias também, inclusive contando ao outro sobre as "coisas do coração".


Ultimamente, devido as circunstâncias da vida, andávamos meio afastados. Mas senti muito quando foi-me dada a notícia de seu passamento. Ele começou a sentir dores de cabeça, foi hospitalizado e constatou-se a existência de um coágulo no cérebro, e infelizmente Robson não resistiu. Gostaria muito de homenageá-lo com pelo menos uma canção. Fazer uma "canção retorno para um amigo à morte" como Renato Russo fez para Cazuza. O mesmo Renato que em "love in the afternoon" escreveu: "é tão estranho/os bons morrem jovens/assim parece ser/quando me lembro de você/que acabou indo embora/cedo demais...". Mas não sou músico nem escritor. Por isso gostaria de deixar apenas o trecho de duas canções: O primeiro é de "death is not the end" (a morte não é o fim) de Bob Dylan:


"Pois a árvore da vida está crescendo

onde o espírito nunca morre

e a luz clara da salvação

no alto, em céus escuros e vazios

quando as cidades estiverem em chamas

com a queima da carne dos homens

apenas lembre-se que a morte não é o fim."


E o outro é de "vida passageira" do Ira:

"É quando teus amigos te surpreendem

deixando a vida de repente

e não se quer acreditar.

mas, essa vida é passageira

chorar eu sei que é besteira

mas, meu amigo, não dá pra segurar...

desculpe meu amigo, mas não dá pra segurar."



Descanse em paz, Robson.




terça-feira, 11 de março de 2008

Falta de Educação


“Agora você vai embora/e eu não sei o que fazer/ninguém me explicou na e“Agora você vai embora/e eu não sei o que fazer/ninguém me explicou na escola/ninguém vai me responder.”
Kid Abelha em “educação sentimental II”


Muitas bandas de rock nasceram no colégio. O U2, por exemplo, começou quando o baterista Lary Mullen Jr. Colocou um anúncio no quadro de avisos da escola procurando músicos para formar uma banda de rock. Os Engenheiros do Hawaii nasceram quando Gessinger, Licks e Maltz se conheceram na Faculdade de Arquitetura da UFRGS. O fato é que a molecada com gosto musical em comum e chateada com a monotonia das salas de aula, se junta e tenta seguir por outros caminhos menos didáticos... Às vezes dá certo.
“Mamãe, ta certo, eu me dei mal na escola/isso acontece, mês que vem eu melhoro.” Dizia Cazuza nos primeiros versos de “subproduto do rock”. Mas, segundo nos conta sua mãe Lucinha Araújo no livro “Só as mães são felizes”, o desempenho de Cazuza na escola não era tão ruim. O que contribuiu para ele abandonar os estudos em nome do rock and roll foi o seu temperamento rebelde e irrequieto. Renato Russo cantou sobre os “vinte anos na escola” na música “geração Coca-Cola”, mas confessou em “química”: “não saco nada de física/ literatura ou gramática/só gosto de educação sexual/e eu odeio química.”. E em “meninos e meninas” ele dizia que cantava em português errado. Mas isso não quer dizer que os roqueiros revoltados contra o ensino sejam burrões. Todo mundo sabe que tanto o Renato quanto o Cazuza eram muito inteligentes. O Lobão também é inteligente e autodidata. Ele não cursou nem o segundo grau completo, mas é um cara super articulado. E mesmo quando o pessoal do Ultraje a Rigor cantou “ a gente somos... a gente não sabemos” na letra de “inútil” o erro foi proposital já que era uma letra debochada como é próprio do Roger Moreira. E vale lembrar que muitos roqueiros são CDFs como os caras do Los Hermanos e do Bad Religion. O Sting era professor e o próprio Renato Russo deu aulas de inglês para sobreviver.
“Nós não precisamos de nenhuma educação/não precisamos de controle mental/nem de nenhum sarcasmo sombrio na sala de aula/hei, professores, deixem as crianças em paz...” dizia um trecho da letra de “another brick in the wall” do Pink Floyd. A letra de Roger (não o Moreira, e sim o Waters) era um protesto contra a escola excessivamente repressiva na Inglaterra. Tudo bem, mas é certo que não dá para os professores aliviarem muito diante de certos alunos rebeldes. Raul Seixas cantava “eu to pulando o muro com o Zezinho/no fundo do quintal da escola”. E dizem que a letra original era: “eu to queimando um fumo” em vez de “eu to pulando o muro”. De uma forma ou de outra, o comportamento descrito na canção é passível de pelo menos um bom puxão de orelhas.
No filme “mentes perigosas”, a professora vivida por Michele Pfeiffer utiliza letras de Bob Dylan no seu programa de aula, e com isso consegue fazer com que um grupo de alunos delinqüentes se interesse por poesia e literatura, acabando assim por domar o espírito rebelde de seus pupilos. Na verdade os métodos de ensino deveriam ser mais atraentes, fazendo com que os alunos sintam prazer em estar nas salas de aula, mas, na maioria dos casos, as aulas são monótonas e enfadonhas e só estimulam a “decoreba”. Na letra de “estudo errado”, Gabriel O Pensador, inteligente como ele só, faz uma síntese do sistema de ensino brasileiro (consulte a letra na íntegra no vagalume.com. vale a pena). Em seu livro “pais brilhantes, professores fascinantes” o psiquiatra e escritor Augusto Cury diz que o papel fundamental da escola é formar o ser humano, educando a parte emocional dos alunos para que eles se tornem pensadores e psicologicamente estruturados para encarar os problemas e desafios da vida. Assim, quando eles se depararem com um problema corriqueiro como o do trecho da música do Kid Abelha citado no início, eles não fiquem tão desesperados como a Paula Toller ficou na canção.


segunda-feira, 10 de março de 2008

Barba, Cabelo e Bigode


"Meu cabelo é verde, amarelo, violeta e transparente/minha caspa é de purpurina/minha barba é azul anil."

Mutantes em: "a hora e a vez do cabelo crescer"


Entre som e atitude, diversão e militância, messianismo e anarquia, o que manda mesmo no mundo do por-rock é o estilo. O Lobão tinha mesmo razão quando disse que "é tudo pose", e pra posar tem que ter estilo. A revista Super Interessante publicou em uma de suas recentes edições, uma matéria sarcástica com o título: "como fazer sucesso mesmo sem ter talento", e uma das dicas era justamente pra criar um estilo. "seja bonito, ou seja feio demais", dizia a matéria, "seja diferente". Pra começar, um bom penteado é importante, já que o cabelo é parte fundamental para se ter um visual estiloso. O pessoal da soul music, na década de 70, celebrizou os famosos cabelos "black power" como os de Sly and Family Stone, The Temptations, Earth, Wind and Fire e etc. Michael Jackson também tinha "cabelo duro, sarará crioulo" no início de carreira, mas depois de estranha metamorfose transformou-se em uma criatura pálida de cabelos lisos, a qual Madonna chamou de "space allien drag queen", algo como "bicha transformista alienígena".Por aqui Tim Maia e Sandra de Sá ajudaram a popularizar o "black power". A tribo reggaeira popularizou as famosas tranças rastafári; Já com a turma do rock, no princípio eram os topetes cheios de brilhantina como os de Litle Richards, Bill Halley, Elvis e o resto da turma. Depois vieram as franjinhas dos Beatles na fase "iê-iê-iê", os quais mais tarde, na fase hippie, adotaram vastas cabeleiras. Depois esse visual de cabelos longos foi adotado principalmente pelas bandas de hard rock e heavy metal. O que seria dos metaleiros sem suas cabeleiras para sacudirem acompanhando os pesados riffs de guitarra?

Na década de 70, portanto, reinaram os roqueiros cabeludos. Foi o estilo da época, e até o rei Roberto Carlos aparecia cabeludão na capa de seus LPs. Mas aí chegaram os punks com cabelos curtos e coloridos, ou cortados no estilo moicano, Porém, como toda regra tem exceção, os Ramones eram punks mas usavam cabelos longos. Existem também aqueles roqueiros que no início de carreira, quando ainda jovens, eram cabeludões, mas com o passar do tempo e o peso da idade se tornaram calvos como Joe Cocker, Phil Collins e Herbert Vianna. O Herbert até radicalizou e raspou os fiapos laterais que ainda sobravam e ficou com a cabeça lisinha. Certamente os cabelos marcaram o visual de muita gente no pop-rock, como os cabelos loiros e longos estilo "Barbie" de Rick Wakeman, tecladista do Yes, do guitarrista albino Jonny Winter, de Humberto Gessinger dos Engenheiros do Havaí e de Sebastian Bach do Skid Row; os cabelos "descabelados" da turma do The Cure e os cabelos coloridos de Pepeu Gomes e Baby Consuelo. Dentre as mulheres, já que falamos da Baby, ficaram famosos os cabelos espetados de Tina Turner, o penteado estilo "bolo de noiva" das meninas do B 52's, o loiro de Madonna copiando Marylin Monroe, o cabelo espalhafatoso da bizarra Nina Hagen e a falta de cabelo de Sinead O'connor.

No quesito barba, os barbudos mais famosos do rock são os caras do ZZ Top, até porque são as barbas mais longas já ostentadas por roqueiros. Ao responderem sobre o porque daquele visual, eles disseram: "nós passamos algum tempo no Havaí, e lá tem coisas muito mais interessantes pra fazer do que barbear-se, aí acabou que ficamos assim". Por aqui, Raul Seixas usava bigode e cavanhaque; Bi Ribeiro dos Paralamas deixou uma barba estilosa e Nando Reis anda por aí com sua barba avermelhada, mas os barbudos tupiniquins mais famosos são os caras do Los Hermanos. Só não se sabe por que, sendo os quatro integrantes barbudos, só o baterista Rodrigo tem o apelido de "barba". Em sua fase hippie, os Beatles, além dos cabelos compridos como já foi dito, adotaram também as barbas longas, com exceção de Ringo Star que ficou só no bigode. E é com os bigodes que fechamos a redação, com os bigodudos famosos do rock como o Frank Zappa, Renato Russo na época dos shows após o lançamento do álbum "as quatro estações", e o mais famoso de todos, o bigode do talentoso e performático Freddie Mercury. Estilo era com ele mesmo, e o bigodinho ajudou muito a compor a imagem de "gay machão", com aquela jaqueta de couro cheias de arrebites e quepe de policial, ou mesmo no clip de "I want to break free" quando ele se travestiu de dona-de-casa, com bobs nos cabelos e dando faxina na casa, o bigodinho também estava lá... o nosso Freddie era realmente o rei da pose.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Palavras ao Vento

"...eu não vou falar de nada/eu não vou falar de nada/isso é só o que basta/pra fazer essa canção."
Titãs em: "eu não vou dizer nada"


Certa vez, em uma entrevista, perguntaram ao Renato Russo se ele preferia letra ou música. E para surpresa de muitos, ele disse que preferia música. Logo ele, um dos maiores letristas do rock nacional... Seria natural se ele respondesse letra, não é? Mas, convenhamos, tem umas letras de músicas que são tão ruinzinhas que seria melhor se a música fosse só instrumental.
Houve um tempo em que o rock não tinha muito que dizer, ou as letras de rock não importavam tanto. O que importava era o ritmo e a diversão. As pessoas nem se importavam com grito de Little Richards, aquele famoso “a-wop-bop-a-loop-bop-a-lop-baing-boom” da música “tutty-frutty”. Nem com o “be-bop-a-lulla” de Gene Vincent, nem com letras bobinhas como a de “blue suede shoes”, na qual Carl Perkins implorava para que não pisassem em seu sapato de camurça azul. Foi Bob Dylan, esse carinha aí de cima que segura os cartazes de boas vindas na abertura do meu blog, foi ele quem mudou a situação poetizando e politizando as letras do rock. Em seu encontro com os Beatles e os Rolling Stones, estes últimos foram influenciados por Mr. Dylan, e suas letras que no início também eram bobinhas passaram a ser mais elaboradas. Mas tem gente que continua achando que letras de rock não têm nada que ser politizadas ou messiânicas. O objetivo principal continua sendo a diversão. E mesmo os cantores e bandas que cantam as chamadas “músicas de protesto” odeiam esse rótulo, e dizem não ser porta-vozes de nada nem representar coisa nenhuma. Mas, para nós ouvintes, é sempre ouvir uma letra legal, de conscientização, ou aquelas letras que são verdadeiras poesias cantadas. No entanto, tem gente que não tá nem aí, e quando canta junto, ainda canta a letra toda errada. Se bem que, algumas vezes, isso é culpa do vocalista que não tem uma boa dicção, ou da mixagem do disco, que deixa o instrumental muito alto, abafando a voz do cantor.
No primeiro encontro de Bob Dylan com os Beatles, Dylan ofereceu-lhes maconha, e se mostrou surpreso quando Jonh Lennon disse que eles nunca haviam experimentado. Dylan então perguntou: e aquele “I get high” (eu fico alto) referindo-se a letra de “I wanna hold your hand”. Aí, um Jonh Lennon todo constrangido, respondeu que não era “I get high”, e sim “I can’t hide” (não consigo esconder). Essas coisas realmente acontecem. A letra de “noite do prazer” do Cláudio Zolly, por exemplo, tem um trecho que diz: “na madrugada, vitrola rolando um blues/tocando B.B. King sem parar...”, mas as pessoas cantavam: “na madrugada vitrola rolando um blues/trocando de biquíni sem parar...”. E na letra de “açaí” do Djavan que diz: “açaí, guardiã/zum de besouro, um ímã/branca é a tez da manhã.”, as pessoas cantavam: “açaí, guardiã/zum de besouro, um ímã/branca é às três da manhã.” . Outro exemplo é a letra de “alagados” dos Paralamas. O refrão diz: “alagados, Trenchtown/Favela da Maré...” e alguns burrões cantavam: “alagados, Flintstones/Favela da Maré...”. Nessas horas, quem sai ganhando é o pessoal que acha que música é só pra divertir... Nesses casos, só rindo mesmo.
Bem fizeram os Titãs, que na canção "eu não vou dizer nada", listaram uma série de coisas sobre as quais eles não iriam falar, não disseram nada, e fizeram uma letra muito criativa, como é próprio do grupo. Isso prova que até a falta de assunto pode render uma boa canção.