Wellcome

sábado, 23 de junho de 2007

Shy Moon


Lua
“O luar...do luar não há mais nada a dizer/a não ser que a gente precisa ver o luar”. Assim diz a canção de Gilberto Gil, e já que não há mais nada a dizer do luar, citarei apenas o que já foi dito desde que Elvis Presley cantou “blue moon of kentucky” e a lua se tornou tema constante no rock and roll, afinal, os brutos também amam e o luar é fonte de inspiração para os corações românticos. Os Beatles, por exemplo, cantaram “Mr. Moonlight” e o mexicano Carlos Santana cantou o luar tropical em “havana moon”.
O The Police também andou em solo lunar com “walking on the moon” e outras bandas cantaram a lua de um modo não tão romântico como o Credence em “bad moon Rising” e o Echo and the Bunymen que cantou “the killing moon”.
A lua tem seu lado sinistro, com seus lobisomens em noites de lua cheia. Rita Lee até pediu: “venha me beijar, meu doce vampiro/na luz do luar” e Renato Russo injetou mais poesia no luar na canção “sereníssima”: “minha laranjeira verde/por que estás tão prateada?/foi da lua dessa noite/do sereno da madrugada”.
Mas, os mais belos momentos lunares são dos Paralamas. Um de seus melhores álbuns se chama “Nove Luas” e é dele o belíssimo reggae “la bella luna”: “oh! Lua de cosmo/no céu estampada/permita que eu possa adormecer...” mas o melhor mesmo está na canção “tendo a lua” do álbum “Os grãos” que tem versos dignos de um Olavo Bilac: “o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu...” e “e tendo a lua/aquela gravidade onde o homem flutua/merecia a visita, não de militares/mas de bailarinos/ e de você e eu...”.
Lua dos românticos, lua dos loucos... esta última foi celebrada pelo Pink Floyd em um dos mais famosos álbuns da história do rock: “The Dark Side of the Moon”. Nele a banda presta homenagem ao seu ex-lider Syd Barret que pirou literalmente e vivia no mundo da lua. Nas entrevistas nos programas de TV ele não respondia nada, se limitava a ficar parado com os olhos fixos no vazio, e nos shows, ficava tocando o mesmo acorde o tempo todo, prejudicando a performance da banda. Na canção título do álbum, Roger Waters se refere a ele da seguinte maneira: “o lunático está sobre a grama/relembrando os dias ensolarados/as brincadeiras e os risos deixados/para manter os doidos no rumo”.
E já que não há mais nada a dizer do luar, resta a nós romântico-lunáticos (sim, todo romântico é meio louco e vice-versa) admirarmos o nosso satélite natural. Você, a música, a poesia, a lua, a rua e eu...
Te vejo no lado escuro da lua.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A Idéia


"solos de guitarra não vão me conquistar"
Paula Toller em "como eu quero"



A idéia
O que é a idéia? Idéia é aquele estalo, aquele momento em que o gênio é atingido por um raio dos deuses, e então, iluminado ele dá a luz à um projeto ou uma obra. E luz é o termo certo. Não é à toa que nos gibis e desenhos animados a idéia é representada por uma lâmpada acesa. Representatividade maior não poderia haver já que o inventor da lâmpada elétrica é o homem das mil patentes, o grande inventor Thomas Edison. Mas eis que no Museu Nacional da História Americana, ao lado da lâmpada de Edison e do telefone de Graham Bell, um outro invento toma seu lugar de destaque: Tchã... tchã... tchã... tchã... a guitarra elétrica.
Coube a Leo Fender, um obscuro consertador de rádios, no ano de 1948, dar á luz àquilo que seria a matéria prima do rock and roll. O fetiche já estava pronto. E durante toda a história do rock, a guitarra foi como que reinventada diversas vezes por seus ases mais criativos, como o guitarrista de blues Elmore James, que inventou a técnica da “slide guitar” , na qual o guitarrista toca deslizando um dedal de metal sobre as cordas do instrumento, ou Jimmy Page, do Led Zeppelin, que inovou ao tocar sua guitarra com um arco de violino; teve também o Eddie Van Halen que tocava usando uma furadeira elétrica!!!!
Mas aquele que é apontado por nove entre dez especialistas como o maior guitarrista de todos os tempos, Jimmy Hendrix, tanto reinventou a guitarra, tocando com os dentes, imitando ruídos de aviões e de bombas explodindo, como também destruiu (literalmente) várias vezes o invento de Leo Fender ao final de seus shows, muitas das vezes ateando fogo ao seu instrumento como que num ritual, sacrificando sua guitarra numa oferenda aos deuses das idéias.
E para finalizar, eu deixo para você um soneto de Augusto dos Anjos, a quem o poeta Geraldinho Carneiro se referiu como “o poeta heavy metal”. O título do soneto é “a idéia” como não poderia deixar de ser, e é mais ou menos o que acontece comigo.

A idéia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites de uma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!



Genial! Não?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

A Espera


"eu tô na lanterna dos afogados/eu tô te esperando/vê se não vai demorar!"
Paralamas do Sucesso, em "lanterna dos afogados"

A espera

Há algum tempo atrás, a MTV brasileira fez uma enquete com a pergunta: "qual música você colocaria como música de espera em seu telefone?" as respostas foram das mais variadas, como era de se esperar (sem trocadilho). a tendência das pessoas é colocar a "música da hora" ou então sua música favorita. Mas o ideal seria colocar uma música que falasse justamente de "espera" como o trecho dos Paralamas que eu citei aí na introdução. Uma outra boa opção seria uma música da extinta banda mineira Virna Lisi , que dizia assim: "vou esperar só mais uma hora depois desse minuto/vou esperar só mais duas horas depois desse minuto de silêncio...". mas a que eu colocaria, seria uma de outra banda extinta, a Little Quail and the Mad Birds que dizia assim: "espera um pouco/ só me espera mais um pouco/ só espera eu me arrumar/ escovar os dentes e cagar..." não é ótima?
Não existe música mais perfeita para tal.
O certo é que não existe nada mais desagradável do que esperar. Seja ao telefone, seja no ponto de ônibus, na fila do banco ou no consultório médico. E até mesmo a espera por coisas boas e agradáveis, às vezes nos causam tanta ansiedade que acaba nos incomodando. É como disse o sábio: “o tempo é demasiado lento para os que esperam; veloz para os que temem; prolongado para os que sofrem; curto para os que se divertem; mas, para os que amam, o tempo não conta.”
A espera por um amor, ou pela volta da pessoa amada já rendeu algumas boas canções como a belíssima "wait in vain" de Bob Marley (eu não quero esperar em vão pelo seu amor), ou "sentado à beira do caminho" de Roberto e Erasmo: "eu não posso mais ficar aqui/a esperar/ que um dia você volte/volte para mim". A banda Plebe Rude, na década de oitenta fez muito sucesso com a canção de protesto "até quando esperar?", e os Tribalistas cantaram: "passe em casa/ tô te esperando, tô te esperando...".
Na lendária canção "pra não dizer que não falei de flores" Geraldo Vandré cantou: "vem,
vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer" mas isso é meio relativo... se você estiver na fila do banco, ou do INSS, e tentar "fazer a hora" e não "esperar acontecer", o mínimo que você vai conseguir é um olho roxo.
É claro que você não vai ficar sentado em casa esperando que tudo lhe caia dos céus, mas tem certas situações em que não adianta mesmo apressar as coisas, e então só nos resta mesmo Ter muita paciência para esperar.
E por fim, tem a espera derradeira, que é a espera pela hora da nossa morte(amém), mas essa ninguém liga de ficar esperando (se bem que tem alguns apressadinhos que vão ao encontro dela). Enfim, enquanto essa dona sinistra não chega, é melhor a gente cantar como o Raul Seixas: "eu que não me sento/no trono de um apartamento/com a boca escancarada, cheia de dentes/ esperando a morte chegar...".

segunda-feira, 11 de junho de 2007


Bezerra da silva
"fui morar na favela porque não tinha onde morar, e não podia morar andando"


Casa

Ah! O sonho da casa própria! Trabalhar, e pagar durante anos aquela prestação do BNH ou da Caixa Econômica, tudo para Ter o prazer de um dia poder pendurar aquela plaquinha com as famosas palavras: "lar, doce lar", afinal de contas, o lar de um homem é o seu castelo.
Elis Regina só queria "uma casa no campo" onde ela pudesse plantar (plantar?) seus amigos, seus livros, seus discos e nada mais. Quanto ao Milton Nascimento, esse parece que morava de aluguel, pois foi ele quem cantou " minha casa não é minha, e nem é meu esse lugar" num trecho de "travessia".
Houve um cantor obscuro chamado Gilson, que no meio da década de oitenta fez muito sucesso com uma música que dizia assim: "eu queria Ter na vida, simplesmente/um lugar de mato verde/pra plantar e pra colher;/Ter uma casinha branca, de varanda,/um quintal e uma janela/ só pra ver o sol nascer". A música era uma versão de um cantor estrangeiro ainda mais obscuro que o nosso Gilson, e que quase ninguém (inclusive eu) sabe seu nome. O Gilson sumiu, e nunca mais se ouviu falar dele, mas ninguém esquece a melodia e os versos que eu citei aí em cima, e muita gente sonhou com a tal casinha, num recanto bucólico.
A realidade é que não é fácil comprar, ou construir a casa dos sonhos, e depois de tudo, ainda se tem que comprar a mobília. Na música "o mundo anda tão complicado" Renato Russo descreve um casal às voltas com esse fato: "temos que consertar o despertador,/e separar todas as ferramentas,/porque a mudança grande chegou,/com o fogão e a geladeira e a televisão./não precisamos dormir no chão(até que é bom!)/mas a cama chegou na Terça,/e na Quinta chegou o som.".
E mais adiante, ele canta: "agora que temos nossa casa,/é a chave que eu sempre esqueço.". pois é, o duro é Ter que ficar trancado do lado de fora, depois de tanta luta pra se conseguir um teto. E por falar em teto, nunca é demais lembrar do movimento dos sem-teto, aquele pessoal que, pelo descaso dos governantes, não têm onde morar, e de vez em quando invadem condomínios vazios, causando muita confusão com os proprietários. E dá tristeza ao caminharmos pelos arredores da cidade, e vermos famílias inteiras morando debaixo dos viadutos. Mas, além destes, tem também os "flagelados da paixão" , os "retirantes do amor", e os "desempregados do coração", como cantou o Lulu Santos. Se você não está incluído entre estes últimos, então "jogue suas mãos para os céus,/e agradeça se acaso tiver/alguém que você gostaria que/ estivesse sempre com você,/ na rua, na chuva, na fazenda/ ou numa casinha de sapê.".
Sendo assim, "luz acesa, me espera no portão/ pra você ver que eu tô voltando pra casa".