Wellcome

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Palavras ao Vento

"...eu não vou falar de nada/eu não vou falar de nada/isso é só o que basta/pra fazer essa canção."
Titãs em: "eu não vou dizer nada"


Certa vez, em uma entrevista, perguntaram ao Renato Russo se ele preferia letra ou música. E para surpresa de muitos, ele disse que preferia música. Logo ele, um dos maiores letristas do rock nacional... Seria natural se ele respondesse letra, não é? Mas, convenhamos, tem umas letras de músicas que são tão ruinzinhas que seria melhor se a música fosse só instrumental.
Houve um tempo em que o rock não tinha muito que dizer, ou as letras de rock não importavam tanto. O que importava era o ritmo e a diversão. As pessoas nem se importavam com grito de Little Richards, aquele famoso “a-wop-bop-a-loop-bop-a-lop-baing-boom” da música “tutty-frutty”. Nem com o “be-bop-a-lulla” de Gene Vincent, nem com letras bobinhas como a de “blue suede shoes”, na qual Carl Perkins implorava para que não pisassem em seu sapato de camurça azul. Foi Bob Dylan, esse carinha aí de cima que segura os cartazes de boas vindas na abertura do meu blog, foi ele quem mudou a situação poetizando e politizando as letras do rock. Em seu encontro com os Beatles e os Rolling Stones, estes últimos foram influenciados por Mr. Dylan, e suas letras que no início também eram bobinhas passaram a ser mais elaboradas. Mas tem gente que continua achando que letras de rock não têm nada que ser politizadas ou messiânicas. O objetivo principal continua sendo a diversão. E mesmo os cantores e bandas que cantam as chamadas “músicas de protesto” odeiam esse rótulo, e dizem não ser porta-vozes de nada nem representar coisa nenhuma. Mas, para nós ouvintes, é sempre ouvir uma letra legal, de conscientização, ou aquelas letras que são verdadeiras poesias cantadas. No entanto, tem gente que não tá nem aí, e quando canta junto, ainda canta a letra toda errada. Se bem que, algumas vezes, isso é culpa do vocalista que não tem uma boa dicção, ou da mixagem do disco, que deixa o instrumental muito alto, abafando a voz do cantor.
No primeiro encontro de Bob Dylan com os Beatles, Dylan ofereceu-lhes maconha, e se mostrou surpreso quando Jonh Lennon disse que eles nunca haviam experimentado. Dylan então perguntou: e aquele “I get high” (eu fico alto) referindo-se a letra de “I wanna hold your hand”. Aí, um Jonh Lennon todo constrangido, respondeu que não era “I get high”, e sim “I can’t hide” (não consigo esconder). Essas coisas realmente acontecem. A letra de “noite do prazer” do Cláudio Zolly, por exemplo, tem um trecho que diz: “na madrugada, vitrola rolando um blues/tocando B.B. King sem parar...”, mas as pessoas cantavam: “na madrugada vitrola rolando um blues/trocando de biquíni sem parar...”. E na letra de “açaí” do Djavan que diz: “açaí, guardiã/zum de besouro, um ímã/branca é a tez da manhã.”, as pessoas cantavam: “açaí, guardiã/zum de besouro, um ímã/branca é às três da manhã.” . Outro exemplo é a letra de “alagados” dos Paralamas. O refrão diz: “alagados, Trenchtown/Favela da Maré...” e alguns burrões cantavam: “alagados, Flintstones/Favela da Maré...”. Nessas horas, quem sai ganhando é o pessoal que acha que música é só pra divertir... Nesses casos, só rindo mesmo.
Bem fizeram os Titãs, que na canção "eu não vou dizer nada", listaram uma série de coisas sobre as quais eles não iriam falar, não disseram nada, e fizeram uma letra muito criativa, como é próprio do grupo. Isso prova que até a falta de assunto pode render uma boa canção.

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