Wellcome

domingo, 15 de julho de 2007

O Mal do Século


"solidão, de manhã,/poeira tomando assento,/rajada de vento,/som de assombração..."
Djavan
Solidão

Solidão não é propriamente aquilo que sentia o personagem de Tom Hanks no filme "Náufrago". Ou não é só aquilo. O que vimos ali foi a "solidão física", a ausência de um único ser igual por perto, e por um longo período, para quem sempre foi acostumado a viver rodeado de pessoas de todos os tipos, fez com que o personagem entrasse em parafuso, a ponto de "cultivar amizade" por uma bola de basquete e até dialogar com ela. Ali ele não sentia falta só das pessoas amadas. Ele sentia falta do ser humano de um modo geral, até de seus defeitos. Mas existe o que eu chamo de "solidão social", que é aquele sentimento em que você se sente numa ilha, mesmo estando rodeado de pessoas. Tem também a "solidão ideológica", quando você está rodeado de pessoas que não compartilham dos mesmos pensamentos e idéias que você. Na verdade o título da crônica deveria se chamar "solidões", tantos são os seus tipos.
A maioria das canções que tratam do tema refere-se à solidão amorosa. São as famosas canções de "dor de cotovelo", falando de pessoas que foram abandonadas por seus pares, ou que estão a procura de um. Como exemplo, podemos citar a canção de Dominguinhos: "que falta eu sinto de um bem!/ que falta me faz um xodó!/ mas como eu não tenho ninguém,/ eu levo a vida assim tão só...", ou a canção do Peninha, "sozinho" que foi regravada por Tim Maia, Sandra de Sá e Caetano: "por que você me deixa tão solto?/por que você não cola em mim?/tô me sentindo muito sozinho...". E tem aquelas canções que, mesmo sem citar a palavra "solidão" deixam transparecer o desespero de quem está só, como a canção "me chama" do Lobão: "chove lá fora e aqui/ faz tanto frio!/ me dá vontade de saber/ aonde está você./me telefona./me chama, me chama, me chama...".
Mas o fato de se Ter um parceiro não é garantia contra a solidão, pois existe a "solidão à dois" como cantou o Cazuza na letra de "eu queria Ter uma bomba". Às vezes duas pessoas estão juntas fisicamente, mas suas mentes estão distantes um do outro, vagando em profunda solidão. Na canção "esperando por mim" do disco "A tempestade", Renato Russo se refere à solidão como o "mal do século", e depois dá a seguinte definição para ela: "cada um de nós imersos em sua própria arrogância/ esperando por um pouco de afeição". Essa seria então a "solidão egoísta", de alguém que só quer receber e não dar carinho e atenção.
"me sinto só./mas quem é que nunca se sentiu assim?" pergunta o CPM 22 no início da canção "um minuto para o fim do mundo". Mas será que é verdade? Existem aqueles que são solitários por natureza, mas será que aquela pessoa que é extremamente social, e que só vive em turmas também têm seus momentos de solidão? Nietzsche já nos falava sobre a importância do que ele chamou de "solidão de ermitão", que são aqueles momentos em que nós devemos passar sozinhos refletindo sobre a vida, analisando valores e conceitos, fazendo uma auto-avaliação e traçando metas e objetivos. A solidão de ermitão é solidão de montanha, é a solidão da contemplação, de quem se coloca em um plano superior para poder analisar os fatos e as circunstâncias que nos rodeiam. Poderíamos chamar essa de “a boa solidão”, ou “a solidão proveitosa”. Só é preciso tomar cuidado pra não se acostumar, e de repente, começar a conversar com objetos inanimados e chamá-los de "Wilson".

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