Wellcome

sábado, 15 de setembro de 2007

As Mil e Uma Noites


“... E pra piorar, quem te governa não presta.”
Barão Vermelho em “declare guerra”


Na década de oitenta, os Paralamas do Sucesso lançaram uma música chamada “Luiz Inácio e os 300 picaretas”. A letra de Herbert Viana fazia alusão a uma declaração de Lula, então deputado federal, de que o congresso nacional era formado por “trezentos picaretas com anel de doutor”. É impressionante como, cerca de quinze anos depois, a letra da canção continue tão atual, vide os últimos episódios de corrupção no governo, culminando na absolvição do senador Renan Calheiros na semana que passou.
Um dos primeiros versos da canção diz assim: “eles ficaram ofendidos com a afirmação/ que reflete na verdade o sentimento da nação”. E o sentimento da nação, expresso em e-mails dirigidos ao senado, e aos jornais de todo o país logo após a vergonhosa absolvição, foi de vergonha e indignação. Só que, como cantou o Skank, “a nossa indignação é uma mosca sem asas./não ultrapassa a janela de nossas casas”. E a canção dos Paralamas continua com o seguinte verso: “É lobby, é conchavo, é propina, é jetom./variações do mesmo tema sem sair do tom...”. Incrível, não é? Parece que a música foi escrita esses dias, pois nunca se viu tantos lobbys, conchavos e propinas rolando nos três poderes que regem a nossa pátria. E a letra continua: “Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei./uma cidade que fabrica suas próprias leis”. Todas as leis em benefício de vossas excelências, diga-se de passagem.
“Parabéns coronéis! Vocês venceram outra vez./o congresso continua a serviço de vocês...”. Eis aí outro verso da mesma canção que parece ter sido feito ontem. O povo já está cansado de ver aquele bando de larápios engravatados usando o congresso e o senado em benefício próprio. Enquanto isso, fora da “ilha”, é apagão pra tudo quanto é lado: na saúde, na educação, na segurança, apagão aéreo e apagão de ética e decência em Brasília. O verso seguinte é assim: “Papai, quando crescer eu quero ser “anão”,/pra roubar, renunciar e voltar na próxima eleição...”. O verso, irônico, refere-se ao episódio dos chamados “anões do orçamento”, no qual a corja que sempre anda por aquelas bandas surrupiou o dinheiro da viúva (como sempre). Talvez, se o Herbert escrevesse a letra hoje, ele substituiria “anão” por “mensaleiro” ou “sanguessuga”, mas a essência seria a mesma.
Na seqüência, vêm os seguintes versos: “Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena:/João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena...”. Se o Herbert fosse citar todos os nomes hoje, a letra da canção seria mais longa do que a de “faroeste caboclo” da Legião. Haja espaço para nomes como o do próprio Renan, Joaquim Roriz, Roberto Jefferson, José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Antônio Palocci e etc. E o que mais dói, é saber que, assim como os “anões do orçamento”, nenhum deles vai pra cadeia. Afinal, como diz o último verso da música: “Ladrão que rouba ladrão, e ainda recebe concessão/ de rádio FM e Televisão.”
A situação só é diferente por um detalhe: o mesmo Lula que disse a frase que inspirou a canção, naquela época era “pedra”, e agora virou “vidraça”. E, em seu silêncio presidencial diante disso tudo acaba tornando-se parte do todo, uma espécie de “Ali-Babá e os trezentos ladrões”( tai um bom título para uma nova canção sobre o mesmo tema), afinal, quem cala consente...

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