Wellcome

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Armas e Rosas


“A minha alma está armada/e apontada para a cara do sossego...”
O Rappa em “ minha alma”






Há alguns anos atrás, foi realizado um referendo sobre a proibição ou não da venda de armas de fogo no país. A maioria da população votou pelo “não”, achando que a proibição desarmaria apenas a população de bem, deixando-a ainda mais indefesa diante da bandidagem, e que isso não resolveria o problema da violência. Isso foi há uns dois ou três anos mais ou menos (na época eu votei pela proibição), e de lá pra cá pouca coisa mudou e a violência continua.
Quando Pablo trouxe a famosa “Winchester 22” para seu primo João de Santo Cristo, com certeza não sabia o fim trágico do final da canção, já que a arma derrubou de uma vez o triângulo amoroso: “...e Santo Cristo com a winchester 22/deu cinco tiros no bandido traidor/Maria Lúcia se arrependeu depois/e morreu junto com João, seu protetor...”. Mas esta estória ilustra bem de onde vem a maioria das armas em circulação no país: Pablo era um traficante peruano que vivia na Bolívia, e a arma foi contrabandeada como acontece na maioria das vezes na vida real. Isso quando não são os próprios policiais que apreendem armas e depois as vendem para os meliantes. Pelo jeito que falam por aí, até parece que tem uma loja de armas em cada esquina, ( eu pelo menos nunca vi uma em toda a minha vida) e que proibindo o comércio de armas de fogo vão acabar com o problema da violência.
Tudo bem, se diminuir um pouco já é alguma coisa, e quanto menos armas estiverem em circulação, menos teremos chances de que algumas delas caiam nas mãos dos “Mark Chapmans” da vida, e assim, vidas de muitos “Jonh Lennons” sejam poupadas, pois o “pop” não poupa ninguém e até o Papa levou um tiro à queima roupa. E o próprio Marcelo Yuka, autor dos versos que eu citei no início, se tornou uma vítima dessas malditas.
Elton Jonh pediu: “don’t shoot me I’m only a piano player” (não atire em mim, sou apenas um pianista) e Bob Marley atirou no xerife (“I shot the sheriff”), mas confessou que não atirou para matar (“but I did not shot to death”) e o Aerosmith cantou a saga de uma pistoleira chamada Jane (“Janes got a gun”) mas existem outros tipos de armas além das de fogo: palavras são armas (tem até uma banda de Hip Hop chamada Calibre Verbal) e até a música é uma “arma” . Roberta Flack até cantou naquela balada brega: “killing me softly with this song” e o U2 tem uma belíssima canção do álbum “The Joshua Tree” chamada “one tree hill” que tem os seguintes versos: “no nosso mundo, um coração de trevas,/uma zona de fogo/onde os poetas deixam seu coração falar,/e então sangram.../Jara cantou, e sua canção era uma arma/nas mãos do amor./você sabe que seu sangue continua gritando do chão.”. E não poderiam faltar os Beatles que têm uma canção chamada “happiness is a warm gun” (a felicidade é uma arma quente) da fase psicodélica da banda, em que as letras eram em sua maioria feitas sob o efeito de LSD, por isso, quando Jonh Lennon canta: “when I hold you in my arms/and I feel my fingers on your trigger” não se sabe bem se ele está se referindo a uma arma ou a uma pessoa.
...e a continuação da canção do Rappa diz: “pois paz sem voz não é paz, é medo”. Poderíamos então encarar esse referendo que aconteceu como “a voz da paz”? Talvez sim, porém é um grito ainda muito sufocado pela violência reinante. Devemos amplificar nosso grito, até que o som de “give peace a chance” seja mais audível do que o daquele instrumento que sempre dá a mesma nota: “Ra-tá-tá-tá!”.



PS. Mas se depois de ler o texto você ainda quiser me atirar, mate-me logo, à tarde, às três, à noite eu tenho um compromisso e não posso faltar, por causa de você... (essa é do Belchior)

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