Wellcome

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Aquarela Sombria



Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...
Amarelo pálido, desbotado, de uma estrela moribunda que esfria;
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo em ruínas,
Desmoronando, e habitado por ratos e lagartos;
Com um lápis em torno da mão eu me dou uma luva de boxe,
Para lutar contra meus monstros e medos;
E se faço chover, chove uma chuva ácida, de uma atmosfera impregnada de agentes químicos,
E com dois riscos tenho um guarda-chuvas perfurado, dilacerado pelos ácidos corrosivos.
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino um abutre esfomeado
Voando sobre os cadáveres que apodrecem na terra deserta e devastada...
Vai voando, contornando as colunas de fumaça negra das florestas carbonizadas que fumegam,
E eu vou voando com esse abutre... viajando: Somália, Haiti, Etiópia, Serra Leoa...
Pinto um barco à vela que vai navegando mares poluídos até ser atingido por um beijo de um torpedo militar.
E entre as nuvens vem surgindo uma esquadrilha de caças, bombardeando a aldeia miserável,
E o bombardeio, à noite, parece uma queima de fogos de artifício mortal.
Basta imaginar, e a esquadrilha está sendo dizimada pela bateria antiaérea, e aquele soldado que ejetou antes do impacto não vai mais voltar...

Numa folha qualquer eu desenho um navio indo a pique, atingido por um submarino nuclear...
Não sobrou nenhum amigo, e eu bebo na taça amarga da solidão.
De uma América a outra o ódio e a intolerância se espalham em um segundo.
Giro um simples compasso, e num círculo eu faço um mundo apocalíptico.
Um menino caminha, e caminhando chega no paredão, de olhos vendados, diante do pelotão de fuzilamento.
E ali logo em frente, a esperar pela gente, está o futuro sombrio...
E o futuro é um poço escuro e sem fundo. não tem tempo nem piedade, mas tem licença pra matar...
Pode ser doença, atentado, bala perdida, e só nos resta chorar.
Nesta estrada esburacada, cheia de crateras de bombas, com os olhos ardendo, não dá pra enxergar o que virá.
Vamos todos juntos, como condenados, caminhando para o matadouro, numa passarela de horror, de uma aquarela que um dia enfim... chegará ao fim.

Nenhum comentário: